Páginas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Corumbiara

Na edição deste ano do Festival de Cinema de Gramado um dos filmes concorrentes me chamou profundamente a atenção. O filme se chama Corumbiara e antes dele começar, houve a premiação do homenageado Walter Lima Jr e na sequência uma introdução do que estava por vir feita pelo diretor Vicent Carelli e do seu colega e indigenista Marcelo Santos. Ambos falaram da importância desse documentário para a sociedade brasileira como um todo, já que fala dos índios que foram massacrados e ninguém foi culpado pela Justiça. Eles alertam que esse filme servirá para que o ocorrido não caia de vez no esquecimento da população.

Fiquei duplamente surpreendido na hora que se iniciou o filme. Primeiro porque estava de frente para um documentário que é um dos concorrentes a Melhor Filme do Festival de Gramado! E, como se sabe, não se dá muito valor aos documentários no Brasil. Segundo porque vi muitas pessoas se retirando do cinema. Inclusive, pude observar que o cineasta homenageado da noite, Walter Lima Jr, também estava indo embora. Assim como o crítico de cinema da RBS Roger Lerina.

Trata-se de uma produção independente do diretor Vincent Carelli. Portanto, não houve nem atores nem preocupação maior com detalhes técnicos como o áudio, por exemplo. Houve momentos em que o som falhou, mas isso não se tornou um problema, já que a edição das imagens feita por Mari Corrêa foi extraordinária, tendo em vista que a película vem sendo feita há 20 anos.

Os personagens do vídeo são indivíduos reais, que não escondem absolutamente nada das lentes do diretor. O que se deve ser observado na película é a importância dela para que não seja esquecida a história do massacre de Corumbiara, ocorrido em Rondônia nas décadas de 80 e 90.

Há um motivo para você não se lembrar desse ocorrido ou simplesmente não saber bulhufas do que estou falando. A razão para isso é que em 1985, o indigenista Marcelo Santos, denunciou um massacre de índios na Gleba Corumbiara (RO). Bárbaro demais, o caso passou por fantasia, e caiu no esquecimento da população brasileira. Na época do massacre, Vicent foi convidado por Marcelo a filmar o que restara das evidências. O que o filme mostra é exatamente a busca pelos sobreviventes do massacre. Isso durou muitos anos, já que apenas em meados dos anos 2000 a procura foi finalizada pelos pesquisadores.

Aniquilados por gananciosos fazendeiros que avançaram sobre suas terras de forma indiscriminada, os índios quase que foram totalmente extintos. Os nativos encontrados foram cruciais para que o governo “cedesse” uma parcela das terras dos fazendeiros para que eles pudessem viver em paz. Graças ao ímpeto de Marcelo e Vicent, os poucos que restaram farão com que sua tribo continue existindo e sua cultura possa ser passada para os seus descendentes.

Em breve este filme passará nos cinemas, apesar de ser documentário e estar longe de ser um “blockbuster”. E quando isso acontecer, vá assistir, pois agora não há mais motivo para não se interar do que aconteceu na cidade de Corumbiara (GO) em 1985 e nos anos seguintes. Deve ser ressaltado, ainda, que nenhum fazendeiro foi culpado das mortes dos índios, pois apenas os corpos deles não foram encontrados. Vestígios do massacre havia, e muitos. Portanto, até hoje esses criminosos continuam extraindo daquele solo as suas riquezas. E bem perto deles estão os sobreviventes que, claro, têm medo do homem branco.

Em tempo:

Assisti ao filme numa quarta-feira à noite e escrevi esse texto quinta-feira à tarde. Fiquei muito contente em saber que na cerimônia de premiação de sábado o filme Corumbiara recebeu nada mais, nada menos do que cinco Kikitos. Sendo eles de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Montagem, Melhor Filme do Júri Popular e Melhor Filme do Júri de Estudantes de Cinema.

Os poucos filmes a que assisti além de Corumbiara não me chamaram a atenção. Tampouco, para escrever algo aqui no Pitaco da Vez. Por isso, foi justa a premiação de Filme (3) e Diretor, assim como a de montagem, que foi feita pela excelente Mari Corrêa.


Nenhum comentário: